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História Além dos Muros da Cidade (Sec. XVIII a XX)

Acompanhe a Iª parte do Relato Histórico sobre a PROCERGS

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História Além dos Muros da Cidade (Séc. XVIII a XX) é a primeira parte do "Relato Histórico" elaborado pela colega Janete da Rocha Machado, trabalho este que  retrata a época em que se iniciou a construção do prédio sede da PROCERGS. Boa leitura!

 

PARTE I

Na primavera de 1752, um grupo de estrangeiros começou a chegar e a se instalar nas terras então pertencentes a Jerônimo de Ornellas, o grande sesmeiro de Porto Alegre. Eram os açorianos que vinham com o objetivo de desbravar a terra prometida. Aportaram e descarregaram suas bagagens, ali, bem às margens do Riacho que, naquele tempo, era uma abandonada beira de praia arenosa. O lugar era bom e,Praia do Riacho talvez, o melhor ancoradouro de toda a pantanosa região. Assim, o Porto de Dornelles passou a se chamar Porto dos Casais, em homenagem àqueles desbravadores de origem portuguesa. Na realidade, os 60 casais açorianos embora constituindo um “arranchamento” irregular e primitivo na denominada Ponta da Península, foi o ponto de partida que daria origem ao burgo estável, embrião da futura cidade de Porto Alegre.


O Monumento aos Açorianos, localizado no Largo de mesmo nome, nas proximidades do Centro Administrativo do Estado, ergue-se em homenagem a eles, os primeiros casais. E foi justamente por ali, talvez um pouco mais para lá ou para cá do monumento, que esse grupo se 1370010671PonteRiacho.jpgestabeleceu, há mais de duzentos anos, com o objetivo de povoar e desenvolver a região. Chegaram cheios de sonhos e ilusões, provavelmente em uma tarde ventosa de novembro, e foram logo se arranjando, mesmo com as dificuldades encontradas naquele fim de mundo que era o Brasil Meridional. 

 

No século XIX, a região onde hoje se encontra a PROCERGS era conhecida por Arraial da Baronesa, alusão a uma extensão territorial de propriedade da dona Maria Emília da Silva Pereira, a Baronesa do Gravataí, cuja mansão se situava onde é hoje a Fundação Pão dos Pobres. Fazia parte da região, também, algumas propriedades rurais, como chácaras,  olarias, e charqueadas, as quais utilizavam mão-de-obra escrava. Eram os limites urbanos de Porto Alegre,  os denominados “espaços além-muros” da cidade. O local ficou conhecido também por servir de  esconderijo aos escravos fugidos. Os negros se escondiam nos matos do arraial, os quais Solar da Baronesa foram  batizados de territórios das “Emboscadas”. O cronista Aquiles Porto Alegre, que conheceu o local, ainda antes de ele ser loteado, informa que se tratava de um matagal fechado onde os negros fugidos iam esconder-se de seus cruéis senhores. As matas eram espessas e ali eles encontravam frutas silvestres, como o araçá, a cereja e a pitanga.


Após um grande incêndio que destruiu o solar, em 1879, a Baronesa loteou e vendeu suas terras. Apesar de não ter sido feita nenhuma melhoria em termos de infraestrutura, após a abolição da escravatura, o território passa a ser habitado principalmente por negros. A quantidade de areia, depositada pelas cheias do Arroio Riacho, atual Dilúvio, muda o nome da região, e esta passa a ser denominada de “Areal da Baronesa”. A imprensa alardeava más notícias sobre o arrabalde, contando histórias de desordens que ali ocorriam, muitas relacionadas à prostituição praticada no local.
 

Com o advento do século XX, inicia-se a modernização da capital gaúcha. A nova cultura urbana, ligada às inovações técnicas, na área dos transportes, energia e saneamento, bem como aos novos espaços de sociabilidades, impulsionam as mudanças, não só no centro de Porto Alegre, como também nas áreas suburbanas. O cenário em torno da Procergs, neste período, é marcado pelo curso e pelo deságue do Riacho, antigo arroio de águas límpidas e cristalinas que, serpenteava desde a sua nascente na cidade de Viamão até sua foz no Guaíba. Suas águas percorriam caminhos que vinham do Morro do Sabão, passando por onde hoje está o Ginásio do Tesourinha e o Teatro Renascença e seguia por trás da Rua João Alfredo, a Antiga Rua da Margem. Nas imediações da Rua Washington Luís, um pouco à frente da Ponte de Pedra, dava-se o deságue na Praia do Riacho.
 

Apesar da beleza do lugar, os moradores da região nunca puderam desfrutar do seu potencial, pois, as águas do Guaíba, já eram, naqueles tempos, sujas pelos despejos de lixo e pelo vai e vem das tropas de gado que se dirigiam ao matadouro próximo. Por conta de suas constantes cheias provocadas pelas chuvas, o Riacho que se unia aos arroios Azenha e Cascata, recebeu o codinome “Dilúvio”. A canalização e o desvio do arroio – considerada uma grande cirurgia urbana, foi imposta pelos governantes da época como uma forma de sanear, higienizar e urbanizar a cidade. Os bairros Cidade Baixa, Santana e Azenha sofreram constantes alagamentos provocados pelo Riacho. Assim, em torno dos anos de 1940, iniciam-se as obras, as quais perdurariam por mais de 20 anos, alterando a rota original do arroio.


Com o passar do tempo, toda a região ribeirinha ao Guaíba, próxima ao Centro Administrativo do Estado, sofreu um dos maiores aterros já vistos. O projeto inicial previa um avanço sobre o rio desde a Ponta da Cadeia, proximidades do Gasômetro, até a Ponta do Dionísio, no Bairro Assunção. E, para isso, muita terra foi retirada, ora dos morros da Zona Sul, ora do Guaíba. As transformações urbanísticas, pelas quais passaram a Cidade Baixa neste período, não deixam dúvidas de que os aterros impulsionaram o desenvolvimento em direção à Zona Sul. Porém, perdeu-se muito do rio, como afirma Sérgio da Costa Franco: “Não por acaso, a cidade progressivamente conquistou partes do leito do Guaíba. Do lado sul da península, a vasta enseada da Praia de Belas, que tinha pouca profundidade e não consentia navegação, foi incorporada ao continente. Peças importantes do equipamento urbano – a Câmara Municipal, o Centro Administrativo do Estado, o Parque Marinha do Brasil, o Shopping Center Praia de Belas e o Estádio do Internacional, estão edificadas sobre terrenos conquistados ao lago”. Assim, a cidade colonial e antiga, foi, lentamente, sendo substituída pela urbe moderna, cuja expansão ajudou a consolidar sua primazia entre todas as cidades do Rio Grande do Sul.


Em torno de 1965, a grande faixa de terras roubadas do Guaíba situada na área da Praia de Belas, sugeria que ali era o local ideal para se construir o Centro Administrativo do Estado. Foi na gestão de Telmo Thompson Flores (1969-1976) e Euclides Triches (1971-1975) que se deu a construção do complexo do Aterro POALargo dos Açorianos. Ocupando uma área de aproximadamente 16 mil metros quadrados, o projeto previa a construção, entre outros, de um prédio redondo, onde ficaria o Centro de Processamento de Dados, o coração da máquina administrativa do Estado.



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REFERÊNCIAS

AQUILES, Porto Alegre. História Popular de Porto Alegre. Porto Alegre: Prefeitura Municipal, 1940.
ARQUIVO HISTÓRICO DE PORTO ALEGRE MOYSÉS VELLINHO. História de Porto Alegre. Porto Alegre, 2012.
MACCHI, LUIZ CARLOS. Entrevista concedida à autora. Porto Alegre, jul. 2012.
FARIA L.A.; Ubatuba de; PAIVA, Edvaldo P. Contribuição ao estudo da urbanização de Porto Alegre. Porto Alegre: Secretaria de Planejamento Urbano, 1938.
FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: guia histórico. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1998.
MONTEIRO, Charles. Breve História de Porto Alegre. Porto Alegre. Ed. da Cidade; Letra e Vida, 2012.
MONTEIRO, Charles. Porto Alegre e suas escritas: história e memória da cidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.
MUSEU DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HIPÓLITO JOSÉ DE COSTA. História de Porto Alegre. Porto Alegre, 2012.
MUSEU DE PORTO ALEGRE JOAQUIM JOSÉ FELIZARDO. História de Porto Alegre. Porto Alegre, 2012.



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